quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A Acupuntura Médica (neurobiológica), a Acupuntura Chinesa, e a prática não-médica.

A palavra Acupuntura, criada para descrever o uso de agulhas como ferramenta terapêutica, apareceu pela primeira vez no livro “De Acupunctura”, publicado em 1683. O autor, o médico e botânico holandês Willem ten Rhijne, havia passado dois anos no Japão a serviço da Companhia Holandesa das Índias Orientais.

Entretanto, a história do método de origem chinesa tem mais de 2000 anos, e algumas realizações da medicina daquele tempo são admiráveis, incluindo a invenção de instrumentos médicos e a descoberta das propriedades terapêuticas das punções na periferia corporal. Por outro lado, diversos equívocos - compreensíveis para a época, considerando a escassez de recursos de investigação, o contexto doutrinário oficial, e os impedimentos culturais aos estudos anatômicos - indo desde o uso de cinábrio (sulfureto de mercúrio) como medicamento, às interpretações ficcionais e incorretas da anatomia, têm sido apontados.

A chamada medicina tradicional chinesa (MTC) apresenta conceitos de grande valor heurístico, como a categorização dos sintomas em grupos de patologias, concebidas segundo os padrões culturais da antiga civilização chinesa, em que todo e qualquer evento era passível de ser classificado a partir dos mesmos critérios, de certa forma matemáticos.

Dos antigos médicos chineses deve-se dizer que foram brilhantes em criar explicações para os fenômenos clínicos e terapêuticos que observavam, mesmo que essas explicações tenham se mostrado incoerentes com a realidade anatômica e fisiológica. Na verdade, depois de grandes investimentos de tempo e dinheiro, as pesquisas que tentavam comprovar a existência de canais de energia (seja o que isso significasse) foram abandonadas.


Hoje se procura esmiuçar os efeitos neurais da estimulação neural periférica, com suas conseqüências psíquicas, hormonais, imunitárias, sensoriais, motoras e autonômicas, e o recurso tecnológico que mais tem contribuído para revelar esses detalhes é a ressonância magnética funcional do sistema nervoso.

Embora muitos dos efeitos benéficos da sua aplicação fossem reconhecidos há muito tempo, até recentemente a Acupuntura permanecia envolta numa aura de mistério, considerada como inevitavelmente vinculada ao contexto étnico-cultural da medicina tradicional chinesa.

O emprego de atitude e metodologia científicas para a resolução dos problemas conceituais e operacionais relacionados com as teorias e a prática da Acupuntura chinesa revelou lacunas irrecuperáveis na trama conceitual antiga. A re-visão efetuada, que expõe a fragilidade do modelo antigo, leva, na outra mão, à consolidação de um novo paradigma, fundando o método de terapêutica por estimulação neural periférica, atualizado e em atualização permanente.

Diferentemente da Acupuntura chinesa, que parte de concepções muito particulares de anatomia e fisiologia, de patologia e de terapêutica, a Acupuntura Neurobiológica está fundamentada na aplicação de princípios fisiológicos, e a sua prática se orienta pela investigação clínica. O estabelecimento do significado biológico das intervenções terapêuticas levou a uma revisão da teoria e da prática, e a uma subseqüente redefinição do método, e para distingui-lo de outros modelos foi adotada a expressão Acupuntura Médica, de base neurobiológica. Com isso, a especialidade ganha maior objetividade nas aplicações clínicas e maior clareza quanto à área de atuação do especialista.

As pesquisas dos últimos 30 anos sobre os mecanismos de ação da Acupuntura, e sobre seus efeitos clínicos, reuniram fatos suficientes para desenvolver os fundamentos e as técnicas da Acupuntura baseada em princípios científicos. O acúmulo de dados da pesquisa básica e dos experimentos clínicos que estudam os processos biológicos e terapêuticos envolvidos com a estimulação e a modulação neural periférica, integrados aos conceitos de neurobiologia clínica e à prática da clínica médica mais atualizada, levaram ao desenvolvimento de um método terapêutico inovador, que se distingue radicalmente dos modelos antigos.

Fundamentada em dados anatômicos e fisiológicos, e com uma prática regida pelo modelo da medicina baseada em evidências, a Acupuntura Neurobiológica integra-se perfeitamente ao contexto médico-científico atual, tornando-se imprópria a sua inclusão na categoria das chamadas medicinas alternativas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Qual é sua intenção em tentar racionalizar e sintetizar no metodo ocidental, uma terapeutica milenar, em quais os resultados nada diferem da sua "estimulação neural periférica", até mesmo em transformar um diagnóstico no metodo holistico de se ver o ser humano num sistema compartimentalizado da medicina moderna?

Instituto de Pesquisa e Ensino de Terapêutica Contemporânea - IPETC disse...

Prexado leitor

O fato de ser milenar não confere validade e eficácia a um método terapêutico.

Além disso, as ciências médicas atuais (nem orietnais nem ocidentais) não são compartimentalizadas, mas sim integrativas, e abrangem a complexidade, que em outras épocas era escamoteada como se o mundo fosse algo simples de traduzir em algumas teorias que não resitem a uma apreciação crítica.

Saudações