sábado, 29 de dezembro de 2007

Comorbidade dos distúrbios funcionais, ou neurossomáticos

Os elementos de comorbidade na síndrome de fibromialgia, ansiedade, fadiga, enxaquecas, cólon irritável, relacionados a mecanismos neurobiológicos comuns, certamente supraespinhais, exemplificam o que ocorre em outras situações. A dor é modulada por vias inibitórias descendentes do tronco cerebral (núcleo magno da rafe, locus ceruleus, substância cinzenta periaquedutal, formação reticular), assim como por diversos centros elevados do cérebro, como hipotálamo, tálamo, gânglios basais, sistema límbico, e estruturas corticais. A ação desses centros na antinocicepção é pouco conhecida.

Diversos estudos que avaliaram a comorbidade da síndrome de fibromialgia com outros distúrbios, documentaram altas taxas de enxaqueca, síndrome do cólon irritável, bexiga hiperativa, síndrome da fadiga crônica e dor facial atípica (dor na articulação têmporo-mandibular). Essas condições são também associadas a altas taxas de distúrbio depressivo maior de longa duração, com grande prevalência de história familiar de depressão. A síndrome de fibromialgia tem sido associada com depressão, assim como com anormalidades cognitivas, de atenção e memória. Ambas as situações têm em comum perturbações da função de neurotransmissores como déficit da função serotoninérgica, sugerindo o papel da serotonina na regulação da percepção da dor, do sono, da vitalidade, do humor e da ansiedade[i].

Da perspectiva da reumatologia e da medicina interna, Yunus and Masi propuseram o termo distúrbio de espectro disfuncional[ii], que inclui síndrome de fibromialgia, síndrome da fadiga crônica, síndrome do cólon irritável, dor facial atípica, entre outras, mas não doenças psiquiátricas. Goldstein, entretanto, usou o termo distúrbios neurossomáticos para descrever um grupo de condições atribuídas, segundo ele, a uma alteração da função límbica, incluindo também os distúrbios de humor e ansiedade, e outras condições.

As doenças neuropsiquiátricas têm sido vistas como expressões multifacetadas de um cérebro funcionalmente alterado, cujas respostas são evocadas por vários inputs sensoriais.

As entidades mórbidas têm sido tradicionalmente classificadas de acordo com a manifestação predominante, sem considerar os aspectos multiformes e interrelacionados de muitas doenças. Entretanto, sintomas como dor intensa ou moderada, cognitivos, de alterações de humor e neurossomáticos estão freqüentemente presentes em pacientes com síndrome da fadiga crônica. Distúrbios afetivos incluem depressão, ansiedade, reações de pânico e mania. A esquizofrenia tem sido tomada como exemplo psicose cognitiva maior. Autismo, assim como outras formas de demência seriam incluídas nessa categoria. Todos esses distúrbios podem ser provocados por infecções virais, manifestadas ou não[iii].

A fadiga muscular na síndrome da fadiga crônica é de causa central, e assim como a dor e a fadiga estão desreguladas, muitas outras funções da rede neural também estão. Na síndrome de fibromialgia, a dor resulta de desregulação sensorial central, uma disfunção neuro-hormonal.



[i] HUDSON James I., POPE Harrison G. Jr,. The relationship between Fibromyalgia and Major Depressive Disorder. Rheumatic Diseases Clinics of North America Volume 22 • Number 2 • May 1996

[ii] YUNUS MB. Towards a model of pathophysiology of fibromyalgia: aberrant central pain mechanisms with peripheral modulation. J Rheumatol 1992; 19:846-850

[iii] MARTIN WJ. Stealth viruses as neuropathogens. CAP Today, 1994 Oct; 8(10): 67-70

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