Compreende-se hoje a vida como um fenômeno múltiplo, composto de atividades ordenadas em níveis de organização, diferentes, mas complementares, que incluem processos físico-químicos elementares, e que se estendem até uma interioridade cuja máxima expressão é a psique. Organismos vivos são definidos como sistemas dinâmicos e abertos, que trocam matéria-energia (inseparáveis) e informação com o meio externo.
Está bem consolidada a noção de que o organismo é uma entidade interagente, em que qualquer evento em qualquer parte do sistema ressoa no todo, e em que inputs periféricos provocam mudanças internas, no sentido de ajustamentos, ações adaptativas que mantém a homeostase, ou estado dinâmico estável, contemplando a idéia de instabilidade controlada.
Para a compreensão da fisiologia segundo esta ótica, é fundamental o reconhecimento dos mecanismos de auto-regulação. Para ser auto-regulado e adaptativo, o organismo dispõe de entradas (input), saídas (output) e de um fluxo interno de informações (throughput), integrando as funções, sob intermediação principal e totalizadora do sistema nervoso.
Essa nova concepção, que está nos tratados de Biofísica, ainda não foi incorporada nos compêndios de Medicina Interna, não é considerada quando se pensa a fisiopatologia, e não entra nos raciocínios clínicos. Ainda está muito distante uma abordagem da Patologia relacionada com os conceitos de Organização e Informação, com o entendimento da saúde como manutenção do estado estável, quer dizer, do nível mais baixo possível de entropia, implicando num estado de complexificação e organização crescentes, e no conceito de doença como aumento da entropia, em que se baseia o novo modelo.
Um modelo terapêutico baseado nesses conceitos contemporâneos requer a inclusão de outros métodos de tratamento, requer a introdução de uma Medicina da Informação, da aplicação de estímulos-informações visando um incremento do nível organizacional do sistema vivo. É aí que se insere a Acupuntura Médica Contemporânea, que pode ser traduzida como Medicina da Informação.
Um equívoco comum sobre a Acupuntura – uma herança dos períodos histórico e mágico supõe que a ação terapêutica se faça sobre uma pretensa energia do organismo. Mas a energia do organismo está contida nas ligações entre os seus elementos constituintes, seus subsistemas; está presente como energia livre, conforme estabelecido por Gibbs (elétrons livres), nos ciclos da fosforilação oxidativa e do ácido carboxílico; apresenta-se como corrente elétrica na rede nervosa; encontra expressão no metabolismo; e se manifesta nos processos orgânicos e nas ações do indivíduo. Trata-se de um dos componentes do organismo, o componente ergônico.
Mas o organismo, sendo auto-regulante, adaptativo, integrado, dispõe de outro componente, o informacional, ou cibernético, cuja característica principal é o fluxo de informações. Informação no organismo, como sob qualquer forma, transita associada a alguma forma de matéria-energia (juntos, porque não faz sentido pensar matéria e energia como entidades separadas). O componente ergônico é que fornece a energia necessária para a transmissão da informação, e as estruturas anatômicas e bioquímicas fornecem o suporte, o substrato para o processo.
Informação pode ser a presença de determinada substância, em certa concentração, controlando uma cadeia de reações de que participa ou agindo à distância, através do sistema integrativo do organismo que são as correntes sangüínea e linfática; ou um impulso elétrico que transite em alguma membrana celular, ou através do outro sistema integrativo do organismo, hierarquicamente superior ao primeiro, que é o sistema nervoso.
Assim, o método da Acupuntura Médica Contemporânea, principalmente considerando que se trata de uma especialidade médica, se define como um conjunto de técnicas de intervenção terapêutica aplicadas sobre a rede de fibras e terminações nervosas, sensoriais e/ou motoras na periferia corporal.
Os objetivos das intervenções são – a promoção da normalização funcional e de analgesia, por meio da supressão da transmissão nociceptiva, ou ativação dos dispositivos endógenos de inibição dessa transmissão.
A sua adoção em larga escala para o tratamento da dor e de distúrbios funcionais em hospitais e ambulatórios representará, espera-se que num futuro próximo, uma possibilidade real de alívio do sofrimento de um número inestimável de pacientes.
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