quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Acupuntura Neurobiológica - O Tratamento da Dor

O conceito de modulação da atividade do sistema nervoso por meio de inputs periféricos inaugura uma nova modalidade de terapêutica na medicina contemporânea. Com o crescimento da base de conhecimento em neurofisiologia, neuroanatomia e neuroquímica da transmissão e modulação no sistema nervoso periférico e central, se desenvolveram tratamentos que atuam sobre esses sistemas [Krames E.S. 2001], entre os quais se destacam os métodos da Acupuntura Médica Contemporânea [Fargas-Babjak, A. 2004].

A Acupuntura Médica Contemporânea é um método médico que utiliza técnicas de estimulação neural periférica com a finalidade principal de promover o bem-estar e a recuperação da saúde de enfermos com síndromes dolorosas e disfuncionais [Baldry P. 2002]. Sua aplicabilidade no tratamento da dor está bem estabelecida [Pomeranz B., Stux G. 1989; Pomeranz B. 2001]. A eficácia e as vantagens de sua utilização estão comprovadas pelas investigações clínicas, em que foram comparados com placebo e com outros métodos [Gunn C.C. 1980; Hesse J. 1994; Hsueh T.C.1997; Smith J.C. 1997; Kleinhenz J. 1999(b); Berman B.M. 2000; Irnich D. 2001; Vas J. 2004].

Resultado de uma evolução histórica [Filshie J., Cummings M. 2001], a Acupuntura Médica Contemporânea está fundamentada no reconhecimento dos mecanismos de ação dos métodos de estimulação neural periférica [Kleinhenz J. 1995(a); Ulett G.A., Han J.S., Han A.P. 1998], e a sua prática é baseada nas comprovações aportadas pelas investigações clínicas [Stux G., Hammerschlag R. 2001].

Diferente da modalidade tradicional, ou “clássica”, a Acupuntura Médica Contemporânea evolui continuamente com o progresso das ciências biológicas que lhe dão suporte [Mayer D.J. 2000]. Não é um “sistema médico” em si, mas sim a aplicação criteriosa de princípios fisiológicos universalmente estabelecidos [Miltiades K. 1996].

What is Acupuncture? The Evidence for Acupuncture as a Treatment for Rheumatologic Conditions.
Berman B.M. 2000

A abordagem da Acupuntura moderna para tratar a dor leva em conta os conceitos de mecanismos agindo por meio dos nervos, e dos sistemas endócrino e imunitário, mais do que por meio de meridianos.

A Acupuntura Médica Contemporânea pode ser definida como um conjunto de técnicas que têm conseqüências neurofisiológicas relacionadas com um incremento do input neural e/ou a promoção de influências moduladoras [Rowlingson J. C., Murphy T. M. 2000]. As respostas envolvem processos fisiológicos nos níveis local, segmentar e encefálico do sistema nervoso com resultados amplos, clinicamente verificados.

O componente neural da dor pode ser tratado com êxito com os métodos da Acupuntura Médica Contemporânea [Wong J.Y., Rapson L.M. 1999]. Por meio de diferentes técnicas de intervenção neuromoduladora pode-se promover, além de analgesia, uma normalização funcional sistêmica, neural e somática, circulatória e visceral, atendendo distintas demandas do tratamento dos pacientes com dor. As intervenções com as técnicas da Acupuntura Médica Contemporânea, que comprovadamente proporcionam redução da dor e promovem a restauração dos padrões fisiológicos são hoje consideradas imprescindíveis no manejo das síndromes dolorosas [Stux G. 2001; Carneiro N.M. 2004].

A descoberta da capacidade das neuro-matrizes envolvidas em controle e regulação das funções orgânicas, de responder a certas modalidades específicas de estímulos externos ou periféricos, ativando dispositivos auto-reguladores homeostáticos, inaugura uma abordagem científica dos métodos de estimulação neural periférica, e amplia a sua aplicabilidade em terapêutica. Além das comprovações dos efeitos fisiológicos da Acupuntura, as evidências clínicas permitem situar o método entre os recursos de primeira escolha terapêutica, na abordagem médica das síndromes dolorosas miofasciais [Carneiro N.M. 2001].

Os novos e extraordinários conceitos permitiram a fundamentação neurofisiológica dos métodos da Acupuntura Médica Contemporânea, que utiliza diferentes modalidades de intervenções sobre o sistema nervoso periférico. Incluem-se entre essas intervenções a estimulação sensorial e motora, e também a supressão focal de informações sensoriais, com o uso de eletroestimulação e/ou anestésicos locais, que podem ser aplicadas em níveis diferentes - intradérmico, subcutâneo, intramuscular, ou periarticular.

Fisiologia da Modulação Neural Periférica no Tratamento da Dor

O sistema nervoso tem a capacidade de manter a homeostase, compensando as perturbações [Davis G.W. 2001]. Sistemas de auto-regulação controlam a atividade da rede neural, e podem ser influenciados por meio da estimulação neural periférica [Day M. 2000].

A estimulação do sistema nervoso periférico produz mudanças com resultados terapêuticos por meio da resposta fisiológica sinteticamente definida como neuromodulação [Ng L. 1992], que se refere tanto a inibição quanto a excitação de estruturas neurais [Krames E.S. 2001]. Neuromodulação é o processo fisiológico, mediante o qual mudanças funcionais do sistema nervoso se tornam estáveis, garantindo a capacidade de adaptação do indivíduo, ao mesmo tempo em que mantém condições cronicamente alteradas [Fellous J.M. 1998].

Sua indução por meio da estimulação neural periférica [Velasco F. 2000] representa um importante recurso para o tratamento de numerosas condições clínicas, incluindo as de difícil manejo por meios farmacológicos e cirúrgicos. [Moss J., Renz C.L. 2000]. A eficácia do método no tratamento das dores músculo-esqueléticas crônicas está amplamente comprovada, e quando comparada com a de outros métodos apresenta diversas vantagens [Wong J.Y., Rapson L.M. 1999].

Entre os procedimentos neuromoduladores mais empregados encontram-se os que utilizam eletroestimulação – a passagem de corrente elétrica pulsada por meio de agulhas metálicas aplicadas em sítios neuro-reativos (eletro-neuro-estimulação percutânea) [Fargas-Babjak A. 2004].

Respostas anti-nociceptivas, antiinflamatórias [Zhang S.P. 2004] e homeostáticas são geradas pela estimulação e modulação de fibras nervosas periféricas [Kleinhenz J. 1995]. Os efeitos autonômicos, normalizadores de funções neuro-imunitárias, neuro-endócrinas e viscerais, resultam em mudanças adaptativas regionais e sistêmicas, que tendem à normalidade funcional [Cao X.D. 1983; Keishi Y. 1997].

A ação analgésica da modulação neural periférica se inicia na periferia, e se manifesta ao longo do neuro-eixo, incluindo estruturas encefálicas superiores [Bossy J. 1979; Takeshige C. 1993]. Os efeitos terapêuticos são intermediados por modificações funcionais de circuitos neurais, com repercussões locais, espinais, cerebrais, hormonais, autonômicas e imunitárias, incluindo o controle da nocicepção, e a restauração dos padrões fisiológicos autonômicos e neuroendócrinos.

No tratamento da dor, os métodos de modulação neural periférica atuam em diversos níveis do processo de captação, transmissão, processamento de sinais sensoriais, e na geração de respostas fisiológicas, incluindo ativação de terminações motoras, e modulação reflexa da atividade autonômica. A hiperpolarização de nociceptores na periferia produzida por eletro-neuro-estimulação transcutânea ou percutânea, com ou sem o uso de pequenas doses de anestésico local, reduz a ativação dos nociceptores por estimulação nociva.

A inibição focal da transmissão de sinais nociceptivos, a dessensibilização periférica e segmentar, a modulação dos reflexos segmentares que mantêm a dor e das respostas neurais supra-segmentares à nocicepção subsidiam os resultados clínicos [Picaza J.A. 1975; Carlsson C. 2002; Chu J. 2002].

Na medula espinal, a estimulação das fibras aferentes que se projetam diretamente em interneurônios inibidores situados na raiz dorsal da medula inibe a transmissão nociceptiva, reduz a atividade simpática segmentar e modula as respostas motoras à nocicepção. As técnicas de modulação neural periférica promovem inibição da subida de sinais aferentes pelas vias da sensibilidade protopática [Teixeira M. J. 2001].

Nos níveis supra-espinais do sistema nervoso central, as técnicas de estimulação neural periférica produzem efeitos inespecíficos, mas cruciais para o tratamento da dor, ativando mecanismos de antinocicepção endógena, e estimulando a restauração dos padrões homeostáticos fisiológicos, incluindo o desligamento de centros geradores e mantenedores das respostas ao stress e à dor [Hui K.K. 2002].

A Acupuntura exerce um efeito de re-aprendizagem fisiológica [Bensoussan A. 1994], modificando padrões de conectividade neuronal através do acionamento de dispositivos periféricos de entrada informacional, que funcionam como comandos numa interface com centros decisores. A ativação repetida de sistemas fisiológicos de inibição da dor treina o organismo a continuar essa atividade, mantendo por longo prazo o alívio da dor, de modo semelhante ao dos métodos de treinamento de funções autonômicas alteradas [Klide A.M. 1989].

O conjunto de efeitos da modulação neural periférica explica, justifica e recomenda a sua aplicação no tratamento da dor aguda, na prevenção da cronificação, e na profilaxia da dor e da inflamação como conseqüências fisiológicas de procedimentos cirúrgicos e diagnósticos (analgesia pré-emptiva) [Gottschalk A. 2001].

Anatomia da Modulação Neural Periférica

Sítios específicos da topografia corporal, os chamados pontos de acupuntura são as vias mais eficientes de acesso a estruturas neuroanatômicas conhecidas na periferia do corpo. Nesses locais, que são os alvos das intervenções neuromoduladoras, se encontram ramos nervosos mistos, ou eferências neuro-musculares (pontos motores musculares), ou se concentram receptores de distintas modalidades sensoriais – proprioceptores (como na transição músculo-tendínea), ou nociceptores. A técnica correta é o estímulo modulador mais adequado para a obtenção dos efeitos desejados [Bekkering R. 2000].

René Descartes (1596-1650)

Segundo o tipo de estrutura neural e efeitos correspondentes, distinguem-se três tipos básicos de sítios de neuroestimulação:

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Um comentário:

Ricardo Sena disse...

Dr. Norton
Parabéns pela matéria.
Gostaria de saber se só os estímulos através da acupuntura seriam capaz de ulidar resposta neurofisiológicas inibitórias da dor??Outras técnicas tais como eletroestimulação percutânea, manipulações periféricas também seriam capazes de exercer inibição similares.Outra questão é porque a preferência pela Bupivacaína 0,5%, seria menos danoso ao organismo?efeitos colaterias, porque não a Xilocaína??Obrigado .

Ricardo Sena