terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

As síndromes dolorosas miofasciais 6. Os tratamentos mais eficazes

O tratamento de dor associada a pontos-gatilho tem algumas características muito especiais. Por exemplo, como os resultados podem, pelo menos em parte, ser verificados imediatamente, não resta dúvida sobre a eficácia ou não das intervenções.

Outro aspecto importante é que o tratamento usual (ou, em geral, a falta de tratamento) das síndromes dolorosas em geral, e miofasciais em particular, revela uma falha importante no modelo atual de atenção à saúde. Os princípios do tratamento de dor relacionada com pontos-gatilho ou neuropática ainda são incrivelmente pouco conhecidos.

Dor de cabeça relacionada com atividade neuro-muscular cervical

Na verdade, o sistema nervoso periférico como campo da manifestação de sintomas, e ao mesmo tempo um painel apto para responder prontamente aos estímulos externos, ainda não chegou às faculdades, nem ao raciocínio médico comum. Talvez porque seja tão nova a descoberta dos diversos papeis desempenhados pela rede neural somática, ainda não foi incorporada ao pensamento majoritário.


Relações neurais entre a zona de dor referida e a musculatura cervical.

Esses quadros dolorosos auto-perpetuantes, que poderiam ter sido manejados de modo a prevenir a cronificação, podem ser tratados com altas taxas de eficiência (às vezes com uma única intervenção, como Melzack observou e há décadas relatou no Textbook of Pain). Uma vez identificadas as alterações que se manifestam nos músculos, estreitamente vinculadas aos componentes neurais, diversos tipos de intervenção produzem no mínimo alguma melhora. Com a aplicação dos métodos mais eficazes, que são os que se baseiam nas propriedades fisiológicas do sistema nervoso periférico, os resultados costumam ser muito melhores e mais consistentes.

As abordagens terapêuticas mais eficazes são as que contemplam os diversos aspectos fisiopatológicos, com base nos conhecimentos da neurobiologia da dor somática crônica.

Isso inclui a aplicação de intervenções que visam não somente provocar reflexos medulares auto-reguladores, e restaurar a normalidade dos que se encontram alterados, mas também acionar a antinocicepção descendente, e modular a atividade global do sistema nervoso central e as respostas autonômicas, contribuindo assim para reduzir a sensibilização neuronal periférica e central.

Assim como o raciocínio neurobiológico, é imprescindível que se contemple a anatomia funcional e a anatomia dos nervos periféricos, que fornecem um mapa mental essencial para o exame e para a aplicação dos procedimentos.

Elementos do sistema nervoso periférico.

A aplicação desse raciocínio, e as práticas decorrentes, é a base da Acupuntura Médica Contemporânea, cuja principal vocação é o tratamento de condições clínicas dolorosas como a síndrome dolorosa miofascial e outras modalidades de dor (neuropática, inflamatória, visceral, especialmente na ocorrência de hiperalgesia) e de distúrbios funcionais em geral.


Infiltrações de anestésico local para desativação de pontos-gatilho.

Os métodos da Acupuntura Médica Contemporânea levam seguramente a resultados superiores aos dos estudos clínicos que utilizaram os pontos da acupuntura chinesa tradicional em tratamento de cefaléia. Esses estudos (de alta confiabilidade, de acordo com os melhores critérios metodológicos) mostraram cerca de 50% de melhora da dor de cabeça crônica, e que agulhamento mínimo em locais sem nenhuma correlação (segundo o arcabouço teórico que sustentou os critérios para escolha dos pontos) com o quadro tratado também promoveu melhora de cerca de 50%.

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