sábado, 29 de dezembro de 2007

Dor

Não há porque temer os deuses
Não há porque temer a morte
É possível ser feliz
É possível eliminar a dor

Tetrafármacon (Quatro Remédios), de Epicuro

Manifestação primordial do sofrimento, a dor é a maneira como em geral se expressa. Sendo um dos componentes fundamentais da vida emotiva, indica o caráter desfavorável da situação em que se encontra o ser vivo. De importância vital, informa o sistema nervoso sobre certas condições externas ou internas incompatíveis com a integridade morfológica ou funcional do indivíduo.

A dor é a forma mais universal do stress1, e ninguém está permanentemente livre do stress da dor.

Havia no passado uma dificuldade em abranger muitas das sensações descritas sob a denominação “dor’. Atualmente se considera como sendo dor tudo o que o paciente diz que é.

A Associação Internacional para Estudos da Dor (IASP) define o termo como “experiência sensorial e emocional desagradável, que é descrita em termos de lesões teciduais, reais ou potenciais; é sempre subjetiva, e cada indivíduo aprende a utilizar este termo através de suas experiências traumáticas”.

A dor é a percepção de uma sensação aversiva ou desagradável que se origina em alguma parte específica do corpo. Como todas as percepções, a da dor envolve abstração e elaboração dos inputs sensoriais. Sua natureza altamente subjetiva é um dos fatores que tornam difícil sua definição e seu tratamento clínico.

Sendo um sistema de alarme, não deve ser desprezada como dado semiológico, mas como norma, a dor deve ser suprimida para não comprometer comportamentos de defesa, e por que ela própria se torna uma ameaça à integridade da saúde. Não sendo simplesmente um sinal de lesão acima de tudo é um sinal de que o organismo demanda reparo e recuperação.

Em seus diversos aspectos psico-fisiológicos, é um fenômeno distribuído pelo SNC. Estudos eletrográficos e através de neuroimagem demonstraram que muitas áreas estão envolvidas em processos relacionados com a dor.

Na Medicina Tradicional Chinesa, assim como na Medicina Grega Antiga, a dor era reconhecida como fenômeno sistêmico: “A noção de dor como resultante e causadora de uma perturbação global do indivíduo está presente no Corpus Hippocraticum e no Huang Di Nei Jing Su Wen. Enquanto no Ocidente esta visão foi esquecida até recentemente, a medicina chinesa guarda fortemente desde sua origem o princípio que, para ser eficaz ao se tratar a dor, é necessário reconhecer, considerar e tratar o indivíduo em sua totalidade”.

O conhecimento da fisiologia da dor foi revolucionado nas décadas de 1960, 1970 e 19807, mas têm uma história mais antiga. Em 1911, Head & Holmes demonstraram a modulação cortical da atividade talâmica; Em 1954, Hagbarth & Kerr esclareceram o controle supraespinal das vias ascendentes, e em 1965 Carpenter publicou trabalho sobre o controle descendente sobre aferências.

Só depois da metade do século 20, com a teoria do gate control - Portal de Controle da Dor, de Melzack, os mecanismos centrais de processamento, que integram as qualidades sensoriais da dor, com suas dimensões afetivas e cognitivas passaram a ser um pouco melhor compreendidas.

Evidenciou-se depois que tratamentos cirúrgicos e farmacológicos destinados a evitar a transmissão periférica dos inputs sensoriais nóxicos eram insuficientes para controlar todas as formas de dor, tornando-se necessário o estudo dos processos de plasticidade cerebral, e dos substratos perceptuais, cognitivos e afetivos envolvidos.

Em 1973, ficou definido o papel dos neurotransmissores – endorfina e encefalina, em produzir e modular a dor, e na década de 1980 veio o reconhecimento do envolvimento da neuroplasticidade em resposta à dor.

O avanço no conhecimento das vias periféricas e centrais de condução da sensação dolorosa, que ocorreu na última década, levou a descobertas importantes. A investigação das respostas cerebrais à dor por Ressonância Magnética Funcional, na década de 1990 geram mudanças conceituais importantes, influenciando a prática da Acupuntura no tratamento da dor.

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