Sobre o conteúdo publicado na Wikipedia lusófona no que se refere à Acupuntura, transcrevo trechos e comento:
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"Aplicação de agulhas de acupuntura: na visão tradicional, a agulha é um veículo para a própria energia vital do terapeuta interagir com a do paciente]]"
Comentário: Essa afirmação, além de não ser proveniente da medicina tradicional chinesa (esse tipo de idéia não existe em nenhum dos textos clássicos chineses), merece uma reflexão mais cuidadosa.
O conceito pode ter implicações mais profundas: contém a idéia de uma substância que passa do corpo do sujeito - acupunturista - para o paciente - objeto do seu "tratamento", e isso representa uma forma de relacionamento metaforicamente material entre os participantes do ato terapêutico. Um relacionamento esdrúxulo - pode-se dizer íntimo (a suposta transfusão de substância), extrapolando o propósito e decerto a ética da atuação médica.
Agora, ouve-se falar também do conceito de uma via inversa da transfusão. Os pacientes (supostamente portadores de energias ruins) passam a ser perigosos, ameaçando a integridade do terapeuta. Especialmente perigoso é considerado por essas pessoas o caso de acupunturista grávida (um estado atavicamente sagrado, ao mesmo tempo poderoso, porque gerador, e frágil - sensível a forças misteriosas), que estaria se expondo de modo fatal, ao espetar o paciente com agulhas, e manipular energias perversas.
As alegorias contidas nos conceitos derivados das teorias chamadas "energéticas" são de fato muito antigas. Suas origens se perdem na "noite dos tempos" mas sobrevivem (arquetipicamente?), velhos demônios teimando em assombrar um mundo que já não devia se assombrar (ou prefere seguir vendo as sombras ao fundo da caverna?).
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" Para a visão geral ocidental, os mecanismos utilizados pela prática acupunturista ainda não estão satisfatoriamente explicados."
Comentário: a expressão “Visão geral ocidental” aplicada a esse caso é uma falácia. O confronto de paradigmas que existe é entre Antiguidade (o pensamento chinês antigo não difere, em essência, do egípcio e do grego e do indiano da mesma época) e o mundo moderno, seja ele ocidental ou “oriental”.
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" Na tentativa de satisfazer alguns conceitos acadêmicos, a acupuntura na linguagem ocidental é um método de estimulação neurológica, com efeitos sobre neurotransmissores, neuromoduladores e reação do sistema imunitário (pró e anti-inflamatória). "
Comentário: o autor confunde propositadamente, com fins propagandísticos, “linguagem ocidental” com dados sólidos e irrefutáveis (experimentação exaustivamente repetida, reprodutibilidade, comunicabilidade) da Fisiologia.
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"Historicamente, a primeira propriedade da acupuntura que foi capaz de chamar a atenção acadêmica, foi justamente no domínio da dor. Esquemas foram levantados para associar liberações de endorfinas causadas por estímulos de agulhas sobre nervos específicos.”
Comentário: De novo, escamoteia a validade da investigação idônea em Fisiologia, afirmando que se trata de “esquemas”...
... " Durante algum tempo, muitos pesquisadores duvidam da aplicação da acupuntura fora do tratamento da dor e nas funções do sistema nervoso autônomo. Os mecanismos da terapêutica da acupuntura, ainda não estão claramente associados aos mecanismos fisiológicos sob os domínios da ciência atual. "
Comentário: De novo, falsidade... Os mecanismos fisiológicos estão claramente definidos, e não há outra ciência senão a atual. Não se pode chamar de ciência as doutrinas enviesadas pelas autoridades, sejam elas provenientes da aristocracia chinesa imperial, ou do governo chinês recente (década de 1940), que decretou que a medicina tradicional chinesa é verdade, sem que precisasse passar por investigação que avaliasse a validade de antigos postulados, muitos dos quais nitidamente supersticiosos e folclóricos.
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" Ainda hoje, apesar do espaço que ganha nos hospitais e clínicas médicas, alguns estudiosos aceitam a "contra-gosto" a atuação terapêutica da acupuntura no tratamento da dor e nas disfunções do sistema nervoso autônomo. "
Comentário: o que não se pode aceitar, nem de bom grado nem a contragosto, é a subversão do método científico por estratégias políticas, propaganda, ou por seitas esotéricas, ou meramente pecuniárias.
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“Entretanto, não é possível ignorar os testes realizados com medotologias largamente aceitas no meio acadêmico, assim como não é possível ignorar uma cirurgia realizada sob a anestesia produzida pela simples punção de agulhas.”
Comentário: afinal, algum traço de racionalidade aparece no discurso apócrifo: “não é possível ignorar os testes realizados com medotologias largamente aceitas no meio acadêmico.” Mas não é verdade que se possa produzir anestesia por meio de “simples punção de agulhas”.
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