sábado, 22 de março de 2008

Stress, imunidade e infecção.

Há mais de 2000 anos, os médicos gregos e romanos, assim como os indianos e chineses, já reconheciam o efeito dos distúrbios emocionais sobre a saúde. Galeno notou que humores (substâncias) patológicos e tumores mamários tinham incidência mais elevada entre as mulheres melancólicas. A investigação científica atual trouxe maior clareza sobre como os estados emocionais geram adoecimento orgânico.

A psiconeuroimunologia é a disciplina em que mais se desenvolveram as pesquisas das conexões entre o stress percebido pelo sistema nervoso a alterações da fisiologia corporal. Neuro-hormônios como a noradrenalina, liberados em decorrência da resposta do sistema nervoso ao stress, a ativação da glândula supra-renal, com conseqüente liberação de cortisol e adrenalina, que primariamente favorecem a reação positiva diante dos desafios, quando excessivos ou continuados, alteram de modo patológico diversas funções do organismo.

Estudos experimentais e epidemiológicos realizados nas últimas décadas mostraram que o stress é um fator de risco para uma ampla variedade de doenças, que vão desde a acne até o câncer, atuando diretamente sobre os mecanismos de regulação do funcionamento dos órgãos e sistemas como o circulatório, o sistema endócrino e de modo crucial o sistema imunitário.

O stress emocional causa alterações hormonais e efeitos na imunidade, de modo semelhante ao de situações que ameaçam a sobrevivência. Condições de stress crônico relacionado com o estilo de vida, e eventos como empobrecimento, divórcio e luto se relacionam com redução na atividade imunitária. As pessoas que não se sentem no controle do seu próprio destino também tendem a ter mais infecções.

Mas os hormônios do stress parecem não afetar somente a competência do sistema imunitário. Descobriu-se que também atuam diretamente sobre as bactérias, aumentando sua capacidade de crescimento e de causar infecção. A presença dos hormônios do stress sinaliza às bactérias que elas se encontram num ambiente favorável ao seu desenvolvimento, já que as defesas do hospedeiro estão enfraquecidas.

O sangue, que normalmente é um ambiente hostil às bactérias, na presença de adrenalina e noradrenalina se torna convidativo aos invasores, levando à sua replicação em grandes proporções. Da mesma forma, algumas drogas adrenérgicas, utilizadas no tratamento de pacientes em unidades de terapia intensiva, porque atuam beneficamente sobre o coração e os rins, aumentam a suscetibilidade desses pacientes às infecções. No sentido contrário, drogas que reduzem a pressão arterial, antagonistas da adrenalina, podem ser usadas para combater o desenvolvimento de bactérias que são estimuladas pelos hormônios do stress.

Microbial endocrinology: how stress influences susceptibility to infection.
Trends Microbiol. 2008 16(2): 55-64

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