segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Conflito de Paradigmas

As importantes contribuições da Acupuntura para o tratamento dos pacientes com dor e síndromes disfuncionais, condições de elevada prevalência na população, vêm sendo progressivamente reconhecidas e adotadas em todo o mundo, tanto pelos meios científicos quanto pelos principais beneficiários, os próprios pacientes.

Mesmo assim, até recentemente a Acupuntura esteve cercada por uma aura de mistério. Aparentemente, estaria irremediavelmente vinculada aos sistemas médicos orientais antigos, com suas concepções peculiares de anatomia e fisiologia, de patologia e de terapêutica. Mas os seus fundamentos biológicos começaram a ser desvendados já na década de 1970, e desde então está comprovado e consolidado como dado de conhecimento, que os efeitos da Acupuntura dependem estritamente da integridade anatômica e funcional do sistema nervoso, e das respostas fisiológicas à estimulação neural periférica [LEVY B., MATSUMOTO T. 1975; POMERANZ B. CHENG L. 1972; QUAGLIA-SENTA A. 1979; BOSSY J. 1979; GUNN C.C., MILBRANDT W.E. 1978].

Os avanços científicos, que elucidaram os mecanismos de ação e redefiniram a Acupuntura, proporcionaram a sua inclusão no contexto médico-científico contemporâneo, e levaram ao advento da Acupuntura Médica Contemporânea. Fundamentada na comprovação da eficácia clínica e nos mecanismos biológicos de ação, desenvolve-se simultaneamente em centros médicos e universitários de vários países [FILSHIE, J., CUMMINGS, M. 2001].

Em permanente atualização, progredindo na mesma medida em que progridem as ciências básicas que a fundamentam, e a pesquisa clínica que fornece balizamento para o diagnóstico e as escolhas terapêuticas, a Acupuntura Médica Contem­porânea já se estabelece como um dos métodos de primeira escolha para aliviar a dor e o desconforto, restabelecer a saúde e promover o bem-estar de muitos pacientes.

As antigas e exóticas explicações da Medicina Tradicional Chinesa para a Acupuntura têm sido contestadas. Graves problemas epistemológicos têm sido apontados, e uma atualização se tornou inevitável e inadiável. O médico de hoje, comprometido com a ética médica, é compelido a buscar a fundamentação da acupuntura nos conhecimentos médicos atuais. Para alguns autores, é provável que muitos dos maiores avanços na acupuntura venham do Ocidente, em vez do Oriente [LEWITH G.T. 1993].

As respostas às questões suscitadas pelos efeitos da Acupuntura devem preencher critérios de compatibilidade com as exigências atuais de evidências fisiológicas e anatômicas, e de referências a dados da pesquisa clínica, ou deixam de ser aceitas [SCHEID V. 2000].

A crítica à Acupuntura baseada nas teorias da antiga medicina chinesa representa um conflito de paradigmas em que se confrontam não o Oriente e o Ocidente - como postulam os defensores da subsistência do modelo arcaico - mas sim a Antiguidade e o mundo contemporâneo.

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