Informações provenientes de diferentes fontes permitem desenhar um uso atualizado dos recursos da estimulação elétrica do sistema nervoso periférico.
Os resultados dos experimentos e as conclusões da investigação biológica da eletro-neuro-estimulação, junto com dados da fisiologia dos neurônios (membrana neuronal, transmissão de sinais ao longo dos axônios sensoriais, processos adaptativos inerentes a cada fibra nervosa), e mais os resultados dos estudos clínicos levam à adoção de estratégias especiais para cada tipo de situação.
Aplicação da eletro-neuro-estimulação num quadro doloroso específico.
Uma das condições dolorosas mais prevalentes nos últimos anos é a dor no punho e na mão relacionada com longos períodos de trabalho usando teclado e mouse. A contração sustentada dos músculos extensores e pronadores no antebraço, e em menor grau também dos flexores, leva às conhecidas mudanças circulatórias e da função neural intramuscular que, com as alterações concomitantes dos tecidos conjuntivos (músculos, fáscias, tendões, cápsulas articulares) levam à instalação da síndrome dolorosa miofascial.
Nesse tipo de condição clínica, o tratamento deve ser dirigido para obter melhora da dor, da capacidade funcional (frequentemente ocorre restrição da amplitude de movimento da articulação do punho), e também a modificação do padrão reflexo (inclui hiperatividade simpática) intermediado por sensibilização periférica e central que contribui para a perpetuação da condição.
Os objetivos terapêuticos incluem:
- redução da hiperalgesia na região da dor referida,
- abrandamento das bandas tensas musculares,
- restauração do tônus dos músculos envolvidos,
- ativação da antinocicepção descendente.
- normalização da atividade autonômica local, regional e sistemicamente, principalmente nos casos crônicos.
Para alcançar esses objetivos utilizando eletro-neuro-estimulação, escolhidos os alvos das intervenções, é preciso escolher o modo de estimulação.
Modo de estimulação de acordo com os objetivos do tratamento.
Na região do carpo, considerando um caso hipotético em que a dor nessa região é um aspecto preponderante, não é necessário utilizar agulhas. Nesse local, uma boa opção é a eletro-neuro-estimulação transcutânea, com freqüências altas (p. ex. 300 Hz) e duração baixa de pulsos (p. ex. 100 microseg), intensidade no nível de percepção não-dolorosa. Um bom recurso é a iontoforese, que pode ser feita com algodão embebido em anestésico local (com pH ácido) sob o eletrodo (há no mercado eletrodos com reservatório para o anestésico).
Para normalizar o tônus muscular, uma boa técnica é a eletro-neuro-estimulação percutânea (ou transcutânea, no caso de alodinia na região do músculo) nos pontos motores dos músculos envolvidos. Nesse caso, a freqüência de eletro-neuro-estimulação não pode ultrapassar 10 Hz, sendo 5 Hz a mais usada. A seqüência de contração e relaxamento re-informa a integração sensório-motora, corrigindo a configuração dos sensores cujos sinais são essenciais para a regulação do tônus muscular, destacando-se os fusos neuro-musculares.
Nas bandas tensas, em que, mais do que contratura pode-se definir a rigidez tecidual como espástica, as freqüências indicadas são mais altas, acima de 300 Hz, duração de pulso baixa (ativam-se preferencialmente as fibras mais calibrosas, de limiar de excitabilidade mais baixo, sem excitar nociceptores).
Como contribuição para a redução segmentar do tônus simpático, é útil estimulação para-vertebral, entre C5 e T1, a freqüência mais usada é 10 Hz, duração de pulso pode ser 200 microseg ou mais.
Estimulação com baixa freqüência (5 Hz) de ramos nervosos nas extremidades (p. ex. nervo mediano, ramo do tibial posterior), contribui de modo sistêmico e inespecífico para a analgesia (antinocicepção descendente), controle das inflamações (inibição simpática / ativação para-simpática), melhora do padrão de resposta ao stress (inibição de centros ativadores como as amídalas temporais), incluindo diminuição da ansiedade, e melhora das funções rítmicas como o sono. Estimulação de locais específicos no couro cabeludo contribui para essa finalidade terapêutica.
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