sábado, 29 de dezembro de 2007

Mecanismos neurobiológicos da reposta ao stress

O stress, que tem sido definido como qualquer evento real ou percebido que possa alterar a homeostase, além de promover a síntese e liberação de catecolaminas, ACTH e opióides, altera a expressão de diversas neurotrofinas (NGF, BDNF) e seus receptores no cérebro acarretando todas as conseqüências conhecidas. As respostas de desregulação cardiovascular e hormonal em condições de stress, através do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal são exemplares[i]. Os efeitos se expandem por áreas importantes, como a regulação da nocicepção, o controle das inflamações e da imunidade, evidenciadas por expressões sintomáticas.

Essas respostas, que agudamente representam um incremento nas capacidades do organismo para fazer frente à situação adversa, de benéficas podem se tornar nocivas ao próprio organismo, quando crônicas, por desregulação de funções importantes como a imunidade, a nocicepção, os ritmos orgânicos – como o sono e os ciclos hormonais, o apetite, e dos diversos sistemas de órgãos. Mecanismos que envolvem neuroplasticidade, modificam configurações das conexões interneuronais, levando a uma estabilidade da situação alterada, dando substrato para a condição, que se autoperpetua.

Os diversos dispositivos que compõem o sistema de regulação e controle das funções orgânicas (que envolvem também os aspectos mentais) compreendem “entradas”, em que transdutores sensíveis a mudanças específicas no ambiente – tanto externo quanto interno captam as variações e as transmitem por meio de canais de comunicação a centros onde são processadas depois de decodificadas gerando comandos – saídas para os efetores.

Os distúrbios neurossomáticos são doenças neurológicas,
causadas por uma complexa interação de fatores genéticos, do desenvolvimento e ambientais.

O mecanismo de produção dos sintomas pode ser definido como alteração do processamento de informações na rede neural. Se os inputs sensoriais, intero e exteroceptivos não são distribuídos e processados adequadamente, as sensações e percepções do indivíduo deixam de ser adequadas, no contexto de uma determinada experiência.

Se há igualmente perturbação que afeta os centros nervosos decisores, as percepções e as respostas adaptativas serão inadequadas, levando a uma síndrome de mal adaptação, que pode se tornar estável, assumindo a forma crônica, que progride para alterações estruturais, ao lado das funcionais.

Os centros cerebrais reguladores funcionais, que efetuam processamento integrativo, recebem inputs intero e exteroceptivos, os quais são integrados com memórias e configurações relacionadas (experiências, atitudes, condicionamentos), e selecionam respostas, destinadas a maximizar as capacidades de sobrevivência do indivíduo.

O sistema límbico, centro de alto nível, atua sobre fadiga, dor, sono, peso, apetite, libido, respiração, temperatura, pressão arterial, memória, atenção, formação de conceitos, humor, vigilância, os sistemas imunitário e endócrino, e a modulação do sistema nervoso periférico. Os distúrbios do sistema límbico, o mediador primário da resposta ao stress, através de mecanismos neurobiológicos, determinam distúrbios descritos como neurossomáticos.

Sistemas reguladores complexos como o sistema límbico apresentam diversas áreas de vulnerabilidade, e suas disfunções podem ter etiologia primária central, ou pode resultar de resposta a vários estressores ambientais. Estando esses centros límbicos envolvidos na seleção de respostas adaptativas ao stress, a gama de estímulos que podem causar desregulação límbica, e a variedade de respostas adaptativas correspondentes (adequadas ou não) é bastante ampla.



[i] EHLERT U., STRAUB R, Physiological and emotional response to psychological stressors in psychiatric and psychosomatic disorders, Ann N Y Acad Sci, 30., 851: 477-86, Jun 199

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