sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Os distúrbios funcionais, ou neurossomáticos.

Depois do intenso progresso tecnológico das ultimas décadas, dispõe-se da possibilidade de solução para as situações médicas cirúrgicas e de emergência. Entretanto, a maior parte das moléstias que afetam as pessoas, cujo tratamento não é cirúrgico, e para as quais os recursos em uso corrente são pouco eficazes, ainda não são adequadamente atendidas. É o caso de muitas condições crônicas dolorosas ou não (como as dores miofasciais, as síndromes de fibromialgia ou da fadiga crônica e os distúrbios neurossomáticos), cujo tratamento permanece insatisfatório.

Isso decorre do desconhecimento, até recentemente, dos processos envolvidos na gênese e na manutenção dessas condições. O reconhecimento das funções de integração e de regulação do organismo, que dependem de um sistema de comunicação e de processamento de informações, desempenhado pelo sistema nervoso, abre um novo modo de compreender as variações da normalidade do organismo. Conduto, os novos paradigmas ainda representam um conflito com os antigos modelos de pensamento médico[i].

As alterações funcionais são, seguramente, as formas mais importantes de adoecimento. Tanto porque fazem parte do cotidiano, com enorme incidência na população, quanto porque trazem sofrimento de graus variados, e porque freqüentemente são a base para o desenvolvimento de condições patológicas definidas por modificações estruturais, além das funcionais.

Mas a idéia da dualidade mente-corpo, e a carência de conhecimento sobre o mecanismo da maioria dos distúrbios funcionais do organismo, em geral atribuídos a perturbações psicossomáticas, impedia o reconhecimento da natureza dessas alterações da saúde.

Uma neurologia desses distúrbios está hoje disponível, trazendo novas possibilidades terapêuticas para essas condições, cujo tratamento não tem sido satisfatório.

A palavra “psicossomático” data do início dos anos 1800, e no final do século passado se falava de distúrbios psicofisiológicos, relacionados aos estudos de Pavlov e Cannon. A expressão “medicina psicossomática”, área de investigação científica se ocupa das relações entre fenômenos psicológicos e a etiopatogenia, apareceu em 1922.

O uso do termo psicossomático tem sido contestado, em parte por causa da perpetuação da separação entre mente e corpo em que implica. Por outro lado, há uma certa conotação pejorativa, quando se atribuem origens ilegítimas aos sintomas e manifestações clínicas, que seriam geradas por mentes imaturas, ou atribuídos à imaginação, ou a somatização, ou seja, sintomas físicos psicologicamente engendrados.



[i] SIVIK T. (Institute for Psychosomatic Medicine, Goteborg, Sweden) Psychosomatic research and the theory of science. - Advances in Mind-Body Medicine - 1999 Spring; 15(2): 148-53

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