Sem receber informação consistente sobre como funciona a Acupuntura, a maioria das pessoas têm idéias emblemáticas sobre o que seja o método de tratamento por meio da aplicação de agulhas na periferia do corpo.
Na melhor das hipóteses (os mais bem informados), sabem que, mesmo sendo – conforme a definição oficial da especialidade médica - “parte integrante da medicina tradicional chinesa” a Acupuntura provoca “liberação de endorfinas”. Essa foi uma das primeiras evidências do efeito da estimulação de nervos na periferia corporal sobre o sistema nervoso central, que foram publicadas na década de 1970. Ao longo dos últimos trinta anos o entendimento dos processos biológicos implicados com a Acupuntura foi muito além das mudanças provocadas opióides endógenos.
De acordo com a versão mais comumente divulgada, a terapia exótica, que pode ajudar a aliviar a dor, baseia-se em teorias como a da existência de canais invisíveis no corpo, por onde transitaria uma substância misteriosa, e que Yin e Yang, assim como os “cinco elementos” e as “energias perversas” podem ser manipulados com agulhas em certos locais, ou num ou noutro lado do corpo.
Essa manipulação teria o poder de remover substâncias que bloqueiam os canais e atacam os órgãos, como a umidade e o vento. Também poderia “tonificar” os órgãos e vísceras, melhorando assim o seu funcionamento, e até provocar mudanças comportamentais, eliminando-se, por exemplo, o medo, através de agulhas nos supostos canais chamados energéticos do rim, e a tristeza nos canais dos pulmões.
Também é corrente a crença em que as agulhadas, porque desobstruem os pretensos canais invisíveis, tiram a dor, que não seria mais do que estagnação da suposta substância chamada energia. Antigamente, acreditava-se que as agulhas expulsariam maus espíritos, mas para isso acontecer era preciso agir com vigor no agulhamento, sendo a dor resultante apenas um efeito colateral menos importante. O estilo de procedimento ainda é utilizado nos dias atuais, para eliminar “energias” invasoras.
Muitos acham que as agulhas “alinham os chacras”. Ou pensam que através das agulhas se transfere uma substância chamada energia, do terapeuta ao paciente, ou vice-versa. Ou que as agulhas atraem energias cósmicas, e por isso curam as doenças. Também há os que acreditam que a Acupuntura foi trazida para a Terra por viajantes cósmicos ou seres espirituais.
Uma dessas opções descreve a imagem que os pacientes e a maioria dos médicos têm da Acupuntura.
De fato, a invenção das agulhas como instrumento médico, e a descoberta das propriedades terapêuticas da sua utilização estão entre as mais importantes criações da civilização chinesa em seu período clássico, que teve lugar há 20 séculos, quando se produziram os textos mais antigos a se referir ao método.
Por conta da falta de explicações coerentes, e de certo grau de fundamentalismo, até recentemente a Acupuntura parecia irremediavelmente vinculada ao contexto étnico-cultural da medicina tradicional chinesa, mesclada com correntes esotéricas ocidentais, permanecendo assim cercada por uma aura de mistério aparentemente irremovível.
Mas o acúmulo de uma massa crítica de dados biológicos e clínicos sobre os efeitos da estimulação neural periférica, que elucidaram os mecanismos de ação e, portanto, redefiniram os fundamentos e reformaram a prática do método, proporcionaram a sua inclusão no contexto médico-científico atual, resultando no desenvolvimento da Acupuntura Médica Contemporânea.
Além dos aspectos práticos do método terapêutico, que reúne um conjunto de técnicas de modulação neural, o termo Acupuntura Médica Contemporânea também designa uma base de conhecimento e uma área de atuação clínica definida. As disciplinas científicas que dão suporte ao método – a fisiologia geral, a neurofisiologia em particular e as neurociências em especial; a anatomia, com ênfase para a neuroanatomia e para a anatomia funcional; a neurobiologia dos processos patológicos, e a base de dados da pesquisa clínica, justificam e delimitam a sua aplicabilidade clínica.
2 comentários:
Porque a acupuntura não tem um efeito de 100% no alívio da dor aguda? ou estou enganado?pergunto pois um médico em minha cidade insiste em tratar problemas que resolvo com uma certa facilidade com Quiropraxia e mesmo a fisioterapia convencional, como por exemplo uma bursite aguda ou uma síndrome do impacto aguda.Ele reluta em encaminhar o paciente para fisioterapia, quando o paciente está desanimado com o tratamento ele então encaminha. O que o senhor pensa a respeito disto, não seria mais fácil prescrever um AINH e encaminhar a fisioterapia, ou seria mercantilismo??nada contra a acupuntura.Abraço e parabéns pelo Blog.
Olá Ricardo
Obrigado pelos cumprimentos.
A participação da fisioterapia é eseencial no tratamento de pacientes com dor.
É preciso, entretanto, escolher criteriosamente as técnicas a serem empregadas. Aprecio os efeitos das terapias manuais.
Por outro lado, a associação de técnicas é que produz o melhor resultado. A acupuntura nurobiológica, utilizando diversos meios terapêuticos, incluindo anestésicos locais, agulhamento e eletro-neuro-estimulação trata muito bem casos agudos.
Saudações
Norton Moritz Carneiro
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