sexta-feira, 1 de maio de 2009

A cura da fibromialgia

Síndrome de Fibromialgia é uma denominação precária para um conjunto de manifestações disfuncionais do organismo. Embora a partícula algia seja adequada, o nome sugere dor nas fibras musculares, que é componente, e nem sempre preponderante (embora freqüentemente seja o motivo de procura por atendimento médico), de um quadro variado de sintomas que são expressão de modificações no funcionamento do organismo.

A diversidade das apresentações, predominando para alguns a fadiga, para outros os distúrbios do sono, ou os transtornos emocionais, se deve a idiossincrasias, às características individuais. O que as unifica é a natureza disfuncional, resultante de perturbações no sistema de regulação e controle das funções do organismo – o sistema nervoso.

De um mesmo lugar cerebral se originam comandos para a regulação dos diversos setores do organismo, incluindo hormônios, o sistema nervoso autônomo, a imunidade, as variações cíclicas como sono e vigília, o humor, o apetite, a libido, os órgãos internos, a percepção da dor, a elaboração de conceitos, e também a dinâmica emocional. Reduzir tudo isso a dor nas fibras musculares prejudica a compreensão do problema, e leva a equívocos como se denominar um quadro de dor regional não-inflamatória de fibromialgia, quando se trata de dor miofascial, denominação igualmente reducionista e parcial - a dor miofascial é essencialmente um transtorno neuro-somático, envolvendo mais do que músculos e fáscias.

A ocorrência de quadros disfuncionais mistos (não confinados a um único órgão ou sistema), que exteriorizam mudanças funcionais do sistema límbico, pode incluir ou não a hiperalgesia generalizada e flutuante, e pode ser decorrente de acúmulo de carga alostática, quer dizer, uma somação de desvios da normalidade funcional, a homeostase (ou a crase hipocrática). Ou seja, esses quadros podem ser desencadeados pela resposta ao stress agudo intenso, ou prolongado.

A condição pode ser transitória, cessando quando o organismo retorna ao
estado de normalidade funcional depois da reação, mas pode se tornar crônica. Isso acontece quando se reúnem os fatores externos, ou os eventos da vida, a uma condição determinada geneticamente. Nesse caso, assim como em tantos outros problemas transmitidos hereditariamente, falar de cura completa é arriscado, porque as condições para que se desenvolva, quando combinadas com outros ingredientes, estão permanentemente presentes.

Mesmo assim, com os recursos já disponíveis, e com o desenvolvimento de novas tecnologias (uma das mais promissoras é a eletro-neuro-modulação profunda do sistema nervoso, para os casos mais resistentes aos tratamentos usuais), os transtornos funcionais são controláveis. As pessoas com esses distúrbios podem manter níveis bastante satisfatórios de qualidade de vida, embora não estejam isentas de recaídas quando submetidas a stress suficientemente severo. Mas a isso estamos todos sujeitos.

A combinação de diferentes recursos terapêuticos, incluindo o manejo do stress (por meio de um aprendizado), medicamentos que contribuem para normalizar os circuitos neuronais afetados, remoção ou redução dos fatores perpetuantes, modulação neural periférica (fundamental) e atividades físicas, funciona muito bem.

Dois fatores são cruciais: a possibilidade de a pessoa utilizar esses recursos, e o seu engajamento no processo terapêutico. Quando se reúnem, os resultados podem ser excelentes. Certamente, a rigor não se possa falar de cura, mas na prática pode resultar igual, com o controle satisfatório das manifestações clinicas.

Nenhum comentário: