domingo, 10 de maio de 2009

Reflexão sobre o tratamento do resfriado

As mais diferentes culturas antigas – asiáticas, africanas, européias e americanas – têm em comum uma leitura animista dos fatos da natureza. Interpretam e representam o mundo e os fenômenos, incluindo as causas das doenças e o funcionamento dos tratamentos, como sobrenaturais e mágicos. O mesmo modo de pensar a realidade subsiste atualmente, seja entre os que ainda não tiveram acesso à revolução científica, seja por apego às antigas e confortáveis explicações, que tranqüilizam porque apresentam um mundo ordenado em causalidades lineares, ignorando as contradições da complexidade.

Ao perceber que a natureza é manipulável, e dominando alguma tecnologia, em todas as culturas se desenvolveram métodos terapêuticos, explicados segundo teorias do mundo muito parecidas entre si, mesmo que produzidas em lugares muito distantes, com o objetivo de expulsar algo que invade o corpo, ou remover do corpo algo que lhe é nocivo.

O modelo representativo exógeno de causalidade mórbida é predominante nas culturas antigas. Além dos seres espirituais ou feitiços, os fatores ambientais como o clima, aos quais se atribuíam (e muitos ainda atribuem) poderes especiais, são os mais apontados como responsáveis pela gênese da doença. São combatidos magicamente, de acordo com a natureza anímica do fator patogênico, sejam totalmente abstratos ou ambientais como os ventos e miasmas.

Qi na China, Prana na Índia, Nilch’i para os nativos norte-americanos, Pneuma para os gregos, Neshuma para os hebreus, Espírito em latim, nas tradições de todos os continentes, o ar, o vento, o sopro, representam os poderes criativos, a ordenação do cosmo, e também a capacidade de desintegrar, desordenar e extinguir.

O vento e o frio são causadores do resfriado, conforme a medicina tradicional chinesa. Em contraste, o modelo médico atual integra as diversas dimensões da doença, como no caso das infecções virais das vias aéreas superiores, incluindo, além do micro-organismo patógeno, fatores psicossociais e “emocionais” (no sentido de ações do organismo em resposta às ameaças à sua estabilidade) na fisiopatologia. Faz sentido, sobretudo porque as deduções não se baseiam apenas em inferências fracas, como a opinião, a observação anedótica e a tradição, mas sim em experimentação que deixa pouca margem para dúvidas sobre a coerência dos dados.

Métodos de modulação neural periférica como o agulhamento e a eletro-neuro-estimulação são úteis para tratar as disfunções provocadas pela infecção viral das vias aéreas superiores, porque são capazes de modificar a atividade autonômica que subsidia as manifestações clínicas, contribuindo para normalizar a resposta imunitária. Para obter esses efeitos, os alvos das intervenções se encontram nos locais de acesso à rede neural periférica.

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