domingo, 23 de maio de 2010

Distúrbios Funcionais

Em 1990, um grupo de pesquisadores ligados ao Departamento de Medicina da Universidade de Ciências da Saúde em Bethesda, EUA, realizou um estudo da prevalência de sintomas em pacientes ambulatoriais, e a eficácia dos tratamentos utilizados.

Observaram que “Sintomas comuns são importantes causas de adoecimento e de
utilização de serviços de saúde.” Por meio de um questionário respondido por 410 pacientes ambulatoriais, avaliaram 15 sintomas. Os pacientes relataram quais eram os seus principais problemas de saúde, e que terapia (se havia alguma) era útil. Enquanto 80% dos pacientes com síndromes dolorosas e queixas gastrintestinais obtiveram algum benefício terapêutico, somente 39% dos indivíduos com fadiga, dispnéia, vertigem, insônia, disfunção sexual, depressão, e ansiedade relataram qualquer alívio.
Concluíram os autores que “são necessários melhores tratamentos para essas queixas comuns dos pacientes ambulatoriais.”

Em meados do século 19, alguns médicos defendiam o conceito de "neuroses" como doenças nervosas sem causa orgânica aparente, e outros duvidavam. Perguntavam: não seriam os distúrbios neuróticos mais bem explicados como doenças imaginárias de pacientes que buscam atenção?

Mais recentemente, Yunus (co-autor dos critérios de diagnóstico da síndrome de fibromialgia para a Academia Americana de Reumatologia), propôs o termo “distúrbio de espectro disfuncional” para descrever condições como síndrome de fibromialgia e síndrome da fadiga crônica, síndrome do cólon irritável, dor facial atípica, bexiga hiperativa, entre outras.

Em seguida apareceu o conceito de distúrbios neurossomáticos, termo que descreve condições atribuídas a alteração da função límbica, incluindo distúrbios do humor, como ansiedade .

Distúrbios neurossomáticos são definidos como disfunções da rede neural com repercussões sistêmicas, causadas por uma interação de fatores genéticos, do desenvolvimento e ambientais. Incluem alterações da captação, da transmissão, do processamento de informações no sistema nervoso, e dos padrões de comandos da rede neural.

O reconhecimento da neurobiologia desses distúrbios representa novas possibilidades terapêuticas para essas condições. Nos distúrbios funcionais como na resposta ao stress, ocorre modulação periférica de receptores e efetores, sensibilização e wind-up no aspecto central. A restauração do padrão fisiológico de configuração da rede neural depende de um aprendizado, semelhante ao que induziu a patologia.
Psicoterapia, medicamentos e neuromodulação induzida por estimulação neural periférica são recursos eficazes para o tratamento dessas condições clínicas.




Sintomas mais comuns, e a proporção de causas orgânicas identificáveis.

 
1. Kroenke K, Arrington ME, Mangelsdorff AD. The prevalence of symptoms in medical outpatients and the adequacy of therapy.Arch Intern Med. 1990 Aug;150(8):1685-9.
2. Yunus M.B. Towards a model of pathophysiology of fibromyalgia: aberrant central pain mechanisms with peripheral modulation. J Rheumatol 9:846-850. 1992
3. Goldstein J. A. Betrayal by the Brain: the neurologic basis of chronic fatigue syndrome, and neural network disorders. The Haworth Medical Press, NY/USA, 1996

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